A ausência de recursos financeiros e econômicos é a forma de pobreza mais comum e pode ser considerada a base de todas as outras. De uma forma absoluta, o estabelecimento do que seja pobreza se dá a partir da fixação de padrões para o nível mínimo ou suficiente de necessidades, conhecido como linha ou limite da pobreza, para determinada parcela da população que se encontra abaixo desse limite. É um padrão de vida mínimo que se apresenta sob diferentes aspectos – nutricionais, de habitação ou de vestuário - e normalmente é avaliado conforme preços relevantes, calculando o rendimento necessário para custeá-los.
Sendo assim, o que se constata é que esse nível de linha de pobreza não traduz a nossa mais pura realidade. Ora, dizer que pobre é somente quem tem uma renda de até meio salário mínimo mensal vai muito além do limite dos absurdos. Essa concepção de que tendo uma renda superior a meio salário mínimo já é o suficiente para não ser enquadrado como pobre não condiz com a vida real que o ser humano precisa e deve ter acesso. Aqui, podemos fazer um desafio: uma pessoa que tenha uma renda de um salário mínimo mensal pode ter acesso às condições necessárias para que possamos afirmar que ela tem uma vida digna? Vamos á resposta:
Viver bem significa ter acesso à educação de qualidade. Essa, somente encontramos na rede particular a um preço altíssimo. Como anda a educação pública no Brasil? E no nosso querido Piauí onde somos o Estado classificado em último lugar da federação?
Viver bem significa ter acesso à saúde de forma integral. Quantas pessoas estão morrendo por falta de atendimento médico, por falta de hospitais com estruturas adequadas para atender a todos, principalmente aquelas pessoas de baixa renda que não podem pagar os planos de saúde que cada dia estão mais caros e atendendo menos?
Viver bem significa direito á moradia decente, diferente dessas ocas que estão sendo construídas pelos planos politiqueiros e eleitoreiros país afora. Significa proteção e segurança por parte de um Estado que garanta a ordem e a paz na sociedade; acesso a trabalho para obtenção de renda para o sustento da família, transporte, etc.
Cada vez mais se fala em desenvolvimento sustentável em relação ao meio ambiente. No entanto, é necessário entender que em primeiro lugar é preciso desenvolver o homem. Esse desenvolvimento se dá por meio de acesso a todas as condições necessárias para uma vida digna.
Obviamente que todas essas referências feitas acima dizem respeito ao Estado brasileiro que possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, acabamos de ultrapassar um trilhão de reais pagos em impostos no ano, e não oferece serviços e atendimento de qualidade à sua população. A correlação entre o valor que é arrecadado e os serviços ofertados é de uma disparidade inaceitável. Nesse Estado, se não fôssemos obrigados a pagar plano de saúde, escola particular, pagar agentes de direito para termos nossos direitos garantidos, pedágios sem sentido e mais outras muitas coisas que levam a maior parte da renda, aí sim, poderíamos aceitar o conceito de que pobre é aquele que vive com uma renda de até meio salário mínimo mensal.
No Brasil, o problema maior da questão pobreza é o processo de degradação da qualidade de vida que é generalizado para o país como um todo.
Eis como os mais pobres definem a pobreza:
“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e liberdade”.
(In: RAE-eletrônica, Volume 1, Número 2, jul-dez/2002)
Nenhum comentário:
Postar um comentário