Muitos autores consideram o campo da educação como a dimensão estratégica para a construção de um novo ser social, isto é, um ser preparado para as mudanças ocorrentes na sociedade e no mundo. O que é a mais pura verdade. No entanto, a história revela que o Estado brasileiro pouco se esforçou no combate às desigualdades sociais. Historicamente, estando ao lado das elites, impedia o desenvolvimento das classes mais humildes.
Para a maioria daqueles que realiza ou realizarão tarefas mais simples no mundo do trabalho, oferece-se uma escolarização mínima de oito séries. Para aqueles que efetuam ou possam vir a efetuar tarefas simples ou pouco mais elaboradas, a terminalidade da sua trajetória educacional é conseguida pela conclusão do ensino médio (…) Para aqueles “cidadãos de 1ª Classe” (…) ensino fundamental e ensino médio propedêutico ao ensino superior realizado majoritariamente na rede privada de ensino médio. (Neves, 1999).
O Brasil vive um processo de dualidade muito desafiador. Estamos, nesse ano de 2010, na perspectiva de crescimento acima dos 7% e o país precisa manter um crescimento médio de pelo menos 6% ao ano para atender a uma população economicamente ativa de mais de 2 milhões de pessoas que entram no nosso mercado de trabalho todos os anos. Por outro lado, esse crescimento nos coloca à beira de um apagão de mão-de-obra por falta de qualificação a altura da demanda existente. O país sofre hoje os impactos negativos do grande descaso com a nossa educação ao longo dos tempos. É verdade que já há vários programas para melhorar a formação da nossa classe trabalhadora. Mas aí que está mais um dos muitos problemas: uma preocupação específica com o trabalho técnico. É óbvio que precisamos qualificar de forma técnica nossa força de mão-de-obra. Mas, precisamos também de políticas de educação mais direcionadas para incentivar a formação nas áreas com maior demanda. Tomemos por exemplo o caso da área de engenharia.
Um estudo sobre a falta de engenheiros como um sério gargalo para o crescimento nacional foi manchete do jornal “Folha de São Paulo” em matéria de primeira página publicada em 14 de fevereiro de 2010. Na seção “Dinheiro”, o desdobramento da matéria “MÃO DE OBRA QUALIFICADA É NOVO GARGALO” demonstra que, em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas, um índice recorde. Entre as vagas ociosas, a área campeã é a Engenharia Civil, seguida da Nutrição e Farmácia. Diz a reportagem: “... A tendência é que a situação se agrave este ano, quando são esperados aumento da atividade econômica e maior oferta de emprego. A escassez de qualificação já é considerada um gargalo comparável à falta de infra-estrutura/logística e à alta carga tributária".
A quantidade ideal de engenheiros para um país em desenvolvimento é algo como 25 para cada grupo de 100.000 habitantes – o dobro do necessário nos países mais ricos. Nesse cálculo, o Brasil está bem abaixo da média e atrás de outros países emergentes. Para piorar o quadro, o país forma engenheiros em ritmo lento demais. Eis os números:
Essa situação é consequência da falta de visão e planejamento onde, há muito tempo, a educação era vista apenas como formadora de mão-de-obra para o mercado de trabalho. Porém, dizia-se preocupada com a formação de um trabalhador que desenvolvesse novas competências, mas para que se ter um trabalhador competente, se o trabalho é realizado de forma técnica? Isso ocorreu durante muito tempo. Porém, hoje, os profissionais melhores remunerados são justamente aqueles que têm uma maior capacidade de solucionar diferentes problemas que venham surgir no ambiente de trabalho.
O atual governo tem procurado desenvolver políticas que possibilitem a melhoria da qualidade educacional de todo o povo. Uma delas é o ProUni - Programa Universidade para Todos foi criado pela MP nº 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior, oferecendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. É uma das ações que vão ao encontro das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê a presença, até o final de 2010, de pelo menos 30% da população na faixa etária de 18 a 24 anos na educação superior.
Políticas como o ProUni são bem vindas. A questão é que precisa haver um foco necessário para atender às nossas demandas. Hoje, ela está engordando a conta de muitas universidades particulares, mas, sem foco para o que realmente o país está necessitando.
Segundo a OAB, o Brasil chegou ao final do ano de 2007 com mais de 600 mil advogados e quase um mil (1.000) cursos jurídicos que formaram cerca de 120 mil novos bacharéis, mas somente cerca de 30% desse total com chances de aprovação no Exame de Ordem. Ainda naquele ano, dos 756.799 concludentes de nível superior no Brasil, 120.562 foram na área de Administração – 15,93%.
Portando, o país precisa e muito de políticas públicas na área da educação. Mas, que tenham direcionamento para o atendimento daquilo que é mais urgente para promoção do nosso crescimento e desenvolvimento. Posso citar, por exemplo, áreas como matemática, química, física, biologia e outras de igual importância para que esse país dê um salto de qualidade na sua mão-de-obra, torne-se mais competitivo e capaz de crescer de forma igualmente justa e sustentável.
Dica de site: http://www.defesanet.com.br/pensamento/ioschpe.htm
Referências:
NEVES, Lucia Maria Wanderley. Educação e Política no Brasil de hoje. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 1999.
http://www.defesanet.com.br/br/edu_engenheiros.htm. Acessado às 19: 50 h em 07.11.2010.
http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=6833. Acessado às 19: 50 h em 07.11.2010.
http://www.crasp.com.br/index2.asp?secao=828. Acessado às 19: 50 h em 07.11.2010.
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