Fico triste e decepcionado com a pobreza da falta de ideias e projetos construtivos na atual campanha política. No que diz respeito às candidaturas a deputados, estaduais e federais, e senadores não vou nem me ater. Fiquemos somente na dimensão presidencial.
Estarrecedor o duelo dos dois principais candidatos disputando a paternidade do bolsa-família, porque é um programa eleitoreiro que dá muitos milhões de votos. Pior ainda é a forma com a qual tratam a nós cidadãos brasileiros como se fôssemos uma nação de miseráveis indigentes e parasitas que somente podem sobreviver de esmolas. É um tal de promessas de novas esmolas como o bolsa diabetes, bolsa hipertensão, bolsa lazer, bolsa sexo (o Ministério da Saúde iniciou a busca por parceiros para a produção, em escala industrial, de dois modelos de equipamento de distribuição de camisinhas que serão instalados em escolas públicas do país). Ninguém fala em estímulo à criatividade e à produtividade e ninguém fala de forma concreta, realística e esperançosa em projetos que possam solucionar os nossos maiores problemas. Ou seja, os nossos calcanhares de Aquiles: saúde, educação e segurança.
Na saúde, ou cidadão paga um plano de saúde ou então vai ser refém e vítima das filas intermináveis do SUS na hora de marcar uma consulta ou uma cirurgia. Dados do Ministério da Saúde informam que somente no ano passado mais de 55 mil homens deixaram de ser operados de câncer de próstata por falta de condições estruturais em todo país.
Na educação, temos a mesma situação que na saúde. Se quiser que seu filho tenha uma educação de qualidade, você deve recorrer às escolas particulares. Caso contrário, seu filho não terá condições de ter uma formação eficiente que o leve a ter igualdades de chances num mundo competitivo. Segundo o Jornal O Estadão, atualmente, os resultados brasileiros em matemática deixam a desejar. ¹No Pisa 2006 - uma avaliação internacional com jovens de 15 anos do qual o Brasil participa -, o País ficou em 57º lugar entre os 60 participantes, com 372 pontos em uma escala que vai até 800. É óbvio e inegável que existem muitos e muitos profissionais de educação sérios, competentes e dedicados no setor público. Mas, a eles não são dadas as condições plenas e necessárias para o desempenho profissional como infra-estrutura e salários dignos.
Na segurança, então... Estamos vivendo a pior crise de todos os tempos. “Nunca antes na história desse país” houve um quadro de tamanha violência como o que estamos vivendo. A vida do ser humano tem quase que nenhum valor, mata-se por nada. Outro dia um assaltante atirou numa criancinha de colo simplesmente porque ela chorou durante um assalto. A violência agora é em tempo real, ao vivo pela TV e pela internet. ²A taxa de mortes por homicídios no Brasil é de 26,9 para cada 100 mil habitantes. Isso na média porque há regiões onde esse número é muito maior como, por exemplo, a região sudeste com 32,3, o Estado de Pernambuco com 50,1 e o Rio de Janeiro com 50,8. Segundo a ONU, o Brasil é o país que mais mata com arma de fogo no mundo.
Impressiona-me muito a forma como muitas pessoas e vários setores da imprensa vendem e empurram a ideia de que estamos vivendo o verdadeiro Estado do bem-estar. Isso é uma mentira absurda. A verdade é que “nunca antes na história desse país”, houve tamanha distribuição de esmolas. O programa bolsa-família simplesmente calou a boca dos mais pobres, aquelas pessoas sem muita esperança onde, para elas, qualquer coisa tá bom. E diga-se, são milhões e milhões de brasileiros que estão norte-nordeste afora sustentando a maior popularidade já vista de um presidente.
Por fim, é deprimente ver um chefe de Estado, um presidente de um país se prestar ao que está fazendo o Lula: desesperado como cabo eleitoral de sua criatura, andando de palanque em palanque na companhia de políticos sórdidos como Sarney e Collor, pessoas a quem no passado afirmava como o que havia de pior em nossa política, tudo por conta da fome e vaidade pelo poder. E também tudo por conta dessa popularidade construída em cima do bolsa-família. Lula se gaba de ser o pai do programa, o mesmo é responsável pela imensa popularidade do presidente, aliás, a maior da história e grande vetor da campanha da candidata imposta por ele. Importante esclarecer que o programa é simplesmente uma cópia, com nova formatação, do que já havia no governo anterior. Na verdade, o governo Lula juntou o que já havia em um único programa, deu-lhe uma nova denominação, e posou para a foto como o cérebro criador do “maior programa social do mundo”. Havia quatro programas de renda do governo FHC: Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa Escola e Bolsa Renda. Lula os juntou depois e os chamou de Bolsa Família. Isso é história. ³E história incontestável é que o Lula, à época do governo FHC, era contra os programas sociais. Porém, hoje, por causa deles, acha-se o pai da pobreza. Retiremos o bolsa-família do governo Lula e então o que sobra? Poucas coisas. Ou seja, o governo Lula é simplesmente o bolsa-família. Sem o programa, ele seria quase nada.
Referências:
¹ http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081216/not_imp294403,0.php
²http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noti cia=1156&id_pagina=1
³http://comentandoanoticia.blogspot.com/2010/08/verdade-sobre-o-bolsa-familia-ou-quem.html